Bairro da Passagem e Igreja de São Benedito
O bairro da Passagem está situado na margem de restinga do Canal do Itajuru e próximo a barra da Lagoa de Araruama. É a área de povoação portuguesa mais antiga da Cidade de N. Sra. de Assunção do Cabo Frio e o único núcleo urbano entre 1616 e 1660. Sua denominação provém do ponto de embarque e desembarque de pessoas e mercadorias que atravessavam o Canal do Itajuru, cujo serviço mantem-se continuo até nossos dias. Após a transferência do centro administrativo da Cidade para o Largo da Matriz (atual Praça Porto Rocha), entre 1661 e 1662, o porto e bairro da Passagem consolidaram-se como local de moradia e trabalho dos patrões de pesca oceânica e navegação costeira, além dos artífices construtores de embarcações. Os primeiros, mais ricos, eram proprietários de lanchas e possuíam escravos africanos empregados nas atividades marítimas.
Através da provisão de 9 de abril de 1761, João Botelho da Ponte foi autorizado a construir a Igreja de São Benedito na Passagem e doou o patrimônio de uma "morada de casas e os foros de outras que se fizeram em terreno pertencente a mesma capela para sua conservação. Após a morte do benfeitor, os moradores do bairro começaram a pagar um Reverendo Capelão “para lhes dizer missa nos dias de preceito". Até o fim do período imperial, o porto e o bairro da Passagem continuaram centralizando as atividades ligadas a construção de embarcações, a pesca oceânica e a navegação costeira de Cabo Frio, além de empregar novos contingentes de escravos africanos na produção de cal e estiva do sal. O largo de São Benedito estendia-se da Rua Grande (ex-Penha e atual Manoel Antônio Ribeiro) até a Igreja, onde os pescadores estendiam redes e observavam os barcos ancorados em frente.
A festa em homenagem ao Santo padroeiro da raça negra no Brasil era promovida pela Irmandade de São Benedito. Até as décadas iniciais do século XX, as comemorações tinham a participação majoritária da população negra da Cidade de Cabo Frio. No meio de barraquinhas, prendas e leiloes cantava-se e dançava-se o “jongo”. A festa de N. Sra. dos Navegantes também era comemorada pela população da Passagem, sendo palco de brigas famosas entre capoeiras e soldados da polícia, ao som de tambores, palmas e cantigas do "bangulê”. A herança negra finalmente tornou a Passagem um dos berços do carnaval cabo-friense de nossos dias. A pequenina Igreja de São Benedito é um primor de arquitetura religiosa colonial. Permanece quase sempre fechada, só abrindo quando há missa aos domingos. O seu interior é modesto e não há imagens de Santos, apenas a miniatura de um barco de pesca embaixo do altar. Até a segunda metade do século XIX, os membros da Irmandade eram enterrados sob o piso da nave.
Hanssen (1988) ensina que a "simplicidade da construção e da parte interna, a localização numa pracinha a sombra de velhas arvores, as modestas casas de morada ao seu redor, do tempo passado, tudo ali respira paz e tranquilidade”.