Ponte Feliciano Sodré
Os índios Tupinambá — habitantes das aldeias situadas na margem continental da Lagoa de Araruama e hábeis canoeiros realizavam periódicas excursões terrestres a restinga de Cabo Frio para coleta, caça e pesca. Homens, mulheres e crianças atravessavam o Canal Itajuru a pé pelo estreito assoreado do Baixo Grande, aproveitando a mare-vazante.
Em 1615, os conquistadores portugueses fundaram a Cidade de Cabo Frio na margem da restinga da lagoa e junto ao porto da barra. O Canal do Itajuru era a defesa natural da Cidade contra expedições guerreiras dos índios Goitacá e desembarques de piratas no litoral norte .
Até meados do século XVII, o bairro da Passagem foi a única povoação da Cidade. Seu nome indica a existência de um porto lacunar, que servia também para a travessia marítima da Canal até a margem continental da Lagoa. Em c. 1660, a sede administrativa da Cidade foi transferida para o atual centro urbano na Praça Porto Rocha, ainda na restinga. Ali se estabeleceu outra travessia marítima do canal: pelo estreito do Itajuru, junto ao morro com a mesma denominação.
O desenvolvimento da agricultura na área rural de Cabo Frio durante o século XVIII, fez nascer mais uma travessia marítima do canal ligando a margem continental a restinga.
Surgia o Porto do Carro, localizado no atual limite municipal de Cabo Frio com São Pedro da Aldeia. Mercadorias e passageiros chegavam em ou a cavalo, sendo levados em canoas até o porto estreito do Itajuru, próximo à Cidade.
Na primeira metade do século XIX, o Porto do Carro continuava a prestar bons serviços. Vindos de Campos em 1847, D. Pedro II e sua comitiva embarcaram numa lancha no Porto do Carro, que os transportou até o ancoradouro especialmente preparado em frente ao largo da Matriz, onde saltaram e deram início a visita imperial a Cidade de Cabo Frio. Após 1850, deu-se preferência à travessia do Canal pela barca de passagem, que utilizava-se de um sistema apoiado em correntes sob o estreito.
Notícias deste uso no século XIX. Carros-de-boi, carroça, homens a cavalo e a pé cruzavam este estreito assoreado, aproveitando-se da maré vazante tal como faziam os índios.
Apesar do desenvolvimento da produção salineira no final do século XIX, a Cidade de Cabo Frio permanecia ilhada na restinga. Graças aos esforços da Câmara Municipal e do farmacêutico Porto Rocha, o Governo do Estado do Rio de Janeiro começou a construir uma ponte de ferro sobre o estreito de Itajuru, próximo a Cidade. Em 1898, inaugurou-se a obra de projeto inglês e levantada por operários espanhóis, que ligava o Morro da Guia ao do Telegrafo e aproveitava os pegões abertos na rocha pelo Major Bellegard, no início do século.
Durante um conserto realizado com o emprego de macaco hidráulico em 1920, a ponte de ferro desnivelou e desabou. O desespero dos cabofrienses foi enorme e crescente: em 1923, o jornal “ O Industrial” chegou a pedir a construção de uma "ponte de pau" ao representante do governo brasileiro que visitava a Cidade .
Nesse mesmo ano, o Ministério da Viação e a empresa Christian S. Nilsen mandaram técnicos a Cabo Frio para estudar o projeto da nova ponte. Anastácio Novellino, Prefeito de Cabo Frio no periodo 1924 - 1926, empenhou-se junto a Feliciano Sodré, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, na construção da nova ponte e na abertura da estrada de rodagem entre a Cidade e São Pedro da Aldeia. Mas, as relações entre a principal autoridade municipal e a estadual se deterioraram por causa do atraso das obras e do desvio de materiais, pelo governo do Rio de Janeiro.
Em 14 de Julho de 1926, sem convidar Anastácio Novellino, Feliciano Sodré acompanhado de comitiva estadual, inaugurou a estrada Cabo Frio - São Pedro da Aldeia e a ponte de cimento armado que foi batizada em sua homenagem. Suportando o peso de até seis toneladas, os veículos passavam cada vez em urna direção. Tratava-se do maior vão livre do Brasil na época, o que permitia a navegação dos veleiros de sal pela sua parte central.
O Prefeito de Cabo Frio foi cassado pela Assembleia Legislativa em novembro de 1926. Durante muito tempo, a ponte Feliciano Sodré foi a única entrada e saída rodoviária da Cidade. Em meados da década de 50, o Governo do Estado de Rio de Janeiro levantou um aterro e construiu uma ponte no Baixo Grande - antiga “passagem dos Tupinambá”, criando novo acesso rodoviário a Cabo Frio e Arraial do Cabo.